domingo, 3 de julho de 2011

Linguagem pessoal é diferente de conteúdo opinativo

Existe uma confusão bastante freqüente entre alunos que começam a lidar com a modalidade dissertativa. Para muitos, parece contraditório que o autor defenda uma opinião, um ponto de vista, mas o faça com uma linguagem impessoal.
Para desfazer essa dúvida, voltemos a lembrar que linguagem diz respeito à forma, isto é, ao modo de organizar o discurso, enquanto opinião remete ao conteúdo, isto é, àquilo que se diz. Trata-se, a rigor de dimensões distintas.
De forma didática, podemos afirmar que o conteúdo de um texto pode ser opinativo ou factual. Ele é opinativo quando o autor do texto apresenta uma visão da realidade, sujeita à discussão, uma vez que parte de sua subjetividade - e a subjetividade humana é bastante diversificada. O conteúdo do texto é factual quando o autor apresenta dados objetivos da realidade, sem sugerir seu ponto de vista. Trata-se daquilo que se convencionou chamar de imparcialidade.

Examine o exemplo a seguir:

                                                               Fato                            Opinião
Linguagem    Impessoal    Esta cadeira é branca.        Esta cadeira é confortável.

                                         Fato                                                                                                                 
Linguagem  Pessoal    Eu me sento nesta cadeira quase todos os sábados.    

Opinião

Eu acho esta cadeira confortável.

No caso das frases factuais, perceba que se fala de algo que não pode ser discutido, pois remete à idéia de "verdade". É claro que, se aprofundarmos nossa visão crítica sobre as coisas, poderemos dizer que mesmo as aparentes "verdades objetivas" escondem opiniões, versões, pontos de vista. Embora isso faça sentido - como veremos nas aulas de argumentação -, podemos dizer que, até certo contexto, pode-se dizer que existe a verdade factual, como exemplificado no quadro.
No caso da segunda coluna, perceba que o traço comum às frases opinativas é a presença de um adjetivo ("confortável") que não indica uma característica presente na cadeira, mas na relação de quem fala com ela. Trata-se, portanto, de um conteúdo discutível, pois outro falante poderia considerar a mesma cadeira desconfortável.
Nesse sentido, a diferença entre "Esta cadeira é confortável" e "Eu acho esta cadeira confortável" - que é o uso da l ° pessoa no segundo caso - pode ser percebida como uma diferença de força expressiva. Isso porque a frase impessoal transmite, como se fosse verdade, uma opinião, tornando-se, possivelmente, mais convincente. Daí seu uso preferencial nos textos dissertativos.

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