sábado, 2 de julho de 2011

2. AS PROPRIEDADES DE UM TEXTO

2.1 COERÊNCIA


A primeira propriedade que um texto precisa ter é coerência de sentido. Isso quer dizer que ele não é um amontoado de frases simplesmente dispostas umas após outras, mas estão relacionadas entre si.
Uma mesma frase pode ter sentido distinto dependendo do contexto em que está inserida. Mas, o que é contexto? Contexto é a unidade maior em que uma unidade menor está inserida. Assim, o texto (unidade maior) serve de contexto para a frase; a frase para a palavra e assim por diante.
O contexto pode ser explícito quando é expresso por palavras, ou implícito, quando está embutido na situação em que o texto é produzido.
O texto é produzido por um sujeito num dado tempo e em um determinado espaço. Esse sujeito, por pertencer a um grupo social num tempo e num espaço, expõe em seus textos às idéias, os anseios, os temores, as expectativas de seu tempo e de seu grupo social. Todo texto tem um caráter histórico, não no sentido de que narra fatos históricos, mas no de que revela os ideais e as concepções de um grupo social numa determinada época. Cada período histórico coloca para os homens certos problemas e os textos pronunciam-se sobre eles. Por exemplo, em nossa época, em que os recursos naturais do planeta correm o risco de esgotar-se, aparece o discurso ecologista que mostra a necessidade de preservar a natureza com vistas à manutenção da espécie humana.
Não há texto que não mostre o seu tempo. Cabe lembrar, no entanto, que uma sociedade não produz uma única forma de ver a realidade, um único modo de analisar os problemas colocados num dado momento. Como ela é dividida em grupos sociais, que têm interesses muitas vezes antagônicos, produz ideias divergentes entre si. A mesma sociedade que gera a idéia de que é preciso pôr abaixo a floresta amazônica para explorar suas riquezas, produz a idéia de que preservar a floresta é mais rentável. Cabe lembrar, no entanto, que algumas ideias, em certas épocas, exercem domínio sobre outras, ganhando o estatuto de concepção quase geral na sociedade.
É necessário entender as concepções existentes na época e na sociedade em que o texto foi produzido para não correr o risco de compreendê-lo de maneira distorcida.
Como as ideias só podem ser expressas por meio de textos, analisar a relação do texto com sua época é estudar as relações de um texto com outros.

3. COESÃO

Outra marca do texto é a coesão, que se realiza na ligação formal entre os segmentos do texto. Tal ligação é feita basicamente por quatro estratégias:
• pelas ligações sintáticas entre as palavras, o que faz com que as vejamos como partes de um mesmo todo; assim, na frase "Machado escreveu um bom romance." As ligações entre sujeito e verbo (Machado escreveu), entre verbo e complemento verbal (escreveu um bom romance) e as relações de concordância entre o artigo um, o adjetivo bom e o substantivo romance são elementos que colaboram para uma visão da frase como um conjunto, já que são elementos interdependentes. Além das ligações formais, há também aqui relações de coerência (ligações de sentido), que serão estudadas em unidade a seguir;
• pelas conexões formais por meio de conectores: na frase "Machado escreveu um romance no final de semana." o segmento no final de semana não possui, em relação aos demais, uma posição de dependência, já que sua inclusão na frase não é uma necessidade decorrente da presença de elementos anteriores, mas sim um termo adjunto, fruto do desejo e/ou necessidade do enunciador; nesse caso, o que estabelece a relação de coesão entre esse elemento e os anteriores é a presença de um conector (no), que obriga o leitor a ver a frase como um conjunto coeso.
• pela repetição de termos, que pode ocorrer basicamente de quatro formas:

a) pela repetição idêntica dos vocábulos
Quem com ferro fere, com ferro será ferido.

b) pela substituição de um vocábulo por outro vocábulo ou expressão
Comprei uma casa nova, mas preciso vendê-la.

c) pela alteração formal do termo anterior
Vi a casa, mas as casas de praia estão muito caras.

d) pela repetição da mesma estrutura: casos em que a repetição obriga o leitor a ver os dois segmentos como formalmente relacionados, além de também apresentarem ligações de sentido (coerência);

Deus é força. Deus é poder. Deus é tudo.

• pela omissão (elipse) de um termo anterior quando tal termo é facilmente subentendido: "O presidente viajou, mas (*) volta logo."(caso em que a ausência do sujeito já expresso anteriormente (o presidente) leva o leitor a unir o segundo segmento ao primeiro.

Podíamos, assim, falar de quatro tipos de coesão:
•    coesão por sintaxe
•    coesão por conectores
•    coesão por repetição
•    coesão por omissão


Ficando assim um desenho esquemático:





Sinônimos:
 

Hiperônimos:
 

Pronome:
 

Conjunções:


Numerais:
 

Ordenação linear dos elementos:
 

Utilização de partículas temporais:
 

Correlação dos tempos verbais:
 

Operadores do tipo lógico:




Operadores discursivos:
 


Como elementos de coesão, temos os conectivos, que são palavras que ajudam na manutenção do texto, estabelecendo vínculos semânticos específicos. Os principais conectivos são:

1.    Prioridade:  em primeiro lugar,  antes de mais nada,  sobretudo,  acima de tudo,
primeiramente, principalmente, primordialmente.

2.    Tempo: então, enfim, ao mesmo tempo, por fim, agora, finalmente, logo, imediatamente, após, a princípio, hoje, freqüentemente, constantemente, ocasionalmente, eventualmente, raramente, sempre, enquanto isso, atualmente.

3.    Finalidade: para, propositalmente, afim de, no intuito de, com o propósito de.

4.    Contraste: exceto, mesmo que, mas, porém, no entanto, entretanto, contudo, todavia, embora, apesar de, mesmo que, ainda que, pelo contrário.

5.    Comparação: igualmente, da mesma forma, semelhantemente, similarmente, assim também, do mesmo modo, de acordo com, segundo, conforme.

6.    Adição: e, não só... mas também, tanto ....quanto, não apenas... como também, além disso, por sua vez, também.

7.    Continuidade: nesse sentido, nessa direção, nessa perspectiva, nessa direção.

8.    Relativização: aparentemente, talvez, provavelmente, possivelmente, não é certo, em
parte, muitas vezes.

9.    Certeza: por certo, com certeza, inquestionavelmente, na verdade, sem dúvida, de fato, certamente, inegavelmente.

10.    Esclarecimento: isto é, quer dizer, em outras apalavras, ou seja, ou por outra, ou por melhor.

11.    Causa: devido a, na medida em que, já, porque, pois, por, em virtude de, em função de.

12.    Conclusão: portanto, por conseqüência, por conseguinte, assim, por isso, com isso, dessa forma, dessa maneira, desse modo, como resultado, enfim, assim, em suma, em síntese, em resumo.

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