domingo, 31 de julho de 2011

O desenvolvimento do parágrafo

Agora que já esclarecemos como introduzir o parágrafo através do tópico frasal, vejamos como desenvolvê-lo.

O desenvolvimento se dará de acordo com as veredas que o autor deseja fundamentar seu texto. E serão estas veredas que ensejarão as afirmativas, os exemplos, as descrições, as comparações, as analogias, os depoimentos etc.

Os exemplos acerca do desenvolvimento do parágrafo está assim descrito em Comunicação em Prosa Moderna:

 1 - Enumeração ou descrição de detalhes

O desenvolvimento por enumeração ou descrição de detalhes é dos mais comuns. Ocorre de preferência quando há tópico frasal inicial explícito, como no exemplo já citado de Aluísio Azevedo (2. Voe., 2.0):

 Tópico frasal

 Era um dia abafadiço e aborrecido. A pobre cidade de São Luís do Maranhão parecia entorpecida pelo calor.  Quase

Desenvolvimento

que se não podia sair à rua: as pedras escaldavam; as vidraças e os lampiões falseavam ao sol como enormes diamantes; as paredes tinham reverberações de prata polida; as folhas das árvores nem se mexiam; as carroças d'água passavam ruidosamente a todo o instante, abalando os prédios; e os aguadeiros, em mangas de camisa e pernas [calças] arregaçadas, invadiam sem cerimônia as casas para encher as banheiras e os potes. Em certos pontos não se encontrava viva alma na rua; tudo estava concentrado, adormecido; só os pretos faziam as compras para o jantar, ou andavam no ganho.

É um parágrafo descritivo bastante bom. Note-se a idéia-núcleo, expressa no tópico frasal inicial (em itálico) e desenvolvida ou especificada através dos pormenores: as pedras, os lampiões, as paredes, as folhas, etc. São detalhes que tornam mais viva a generalização "era um dia abafadiço e aborrecido". (O trecho pode servir de modelo para exercícios do mesmo gênero: basta mudar o quadro da descrição e seguir o mesmo processo de desenvolvimento.)



2 - Confronto

Processo muito comum e muito eficaz de desenvolvimento é o que consiste em estabelecer confronto entre idéias, seres, coisas, fatos ou fenômenos. Suas formas habituais são o contraste (ba­seado nas dessemelhanças), e o paralelo (que se assenta nas se­melhanças). A antítese é, de preferência, uma oposição entre idéias isoladas. A analogia, que também faz parte dessa classe, baseia-se na semelhança entre idéias ou coisas, procurando explicar o des­conhecido pelo conhecido, o estranho pelo familiar (ver 2.3, a seguir).

Exemplo clássico de desenvolvimento por confronto e contras­te é o paralelo que A. F. de Castilho faz entre Vieira e Bernardes:

Lendo-os com atenção, sente-se que Vieira, ainda falando do céu, tinha os olhos nos seus ouvintes; Bernardes, ainda falando das criaturas, estava absorto no Criador. Vieira vivia para fora, para a cidade, para a corte, para o mundo, e Ber­nardes para a cela, para si, para o seu coração. Vieira estudava graças a louçainhas de estilo (...); Bernardes era como essas formosas de seu natural que se não cansarii com alinhamentos (...) Vieira fazia a eloqüência; a poesia procurava a Bernardes. Em Vieira morava o gênio; em Bernardes, o amor, que, em sendo verdadeiro, é também gênio (...).

(Apud Fausto Barreto e Carlos de Laet, Antologia nacional, p. 186)

É um parágrafo sem tópico frasal explícito, pois a idéia-núcleo é o próprio confronto entre Vieira e Bernardes. O Autor poderia iniciar o parágrafo com um tópico frasal mais ou menos nestes termos: "Vejamos o que distingue Vieira de Bernardes" ou "Muito diferentes (ou muito parecidos) são Vieira e Bernardes". Mas seria inteiramente supérfluo, pois essa idéia está clara no desenvolvi¬mento.

Exemplo, também muito conhecido, de parágrafo com desenvolvimento por contraste é o de Rui Barbosa sobre política e politicalha:

Política e politicalha não se confundem, não se parecem, não se relacionam uma com a outra. Antes se negam, se excluem, se repulsam mutuamente (tópico frasal). A política é a arte de gerir o Estado, segundo princípios definidos, regras morais, leis escritas, ou tradições respeitáveis. A politicalha é a indústria de o explorar a benefício de interesses pessoais. Constitui a política uma função, ou conjunto das funções do organismo nacional: é o exercício normal das forças de uma nação consciente e senhora de si mesma. A politicalha, pelo contrário, é o envenenamento crônico dos povos negligentes e viciosos pela contaminação de parasitas inexoráveis. A política é a higiene dos países moralmente sadios. A politicalha, a malária dos povos de moralidade estragada.”

(Apud Luís Vianna Filho, op. cit., p. 32)

Vê-se logo pelo tópico frasal que se trata de um contraste, e não propriamente de um paralelo ou confronto (como no exemplo de Castilho), pois o que o Autor ressalta entre política e politicalha é o seu antagonismo e não a sua identidade. Ora, o valor do contraste — de que a antítese é a figura típica — reside precisamente na sua capacidade de realçar certas idéias, pela simples oposição a outras, contrárias.



3 – Analogia e comparação

A analogia é uma semelhança parcial que sugere uma semelhança oculta, mais completa. Na comparação, as semelhanças são reais, sensíveis, expressas numa forma verbal própria, em que entram normalmente os chamados conectivos de comparação (tão, tanto, como, do que, tal qual), substituídos, às vezes, por expressões equivalentes (certos verbos como “parecer”, “lembrar”, “dar uma idéia”, “assemelhar-se”: “Esta casa parece um forno, de tão quente que é.”). Na analogia, as semelhanças são apenas imaginárias. Por meio dela, se tenta explicar o desconhecido pelo conhecido, o que nos é estranho pelo que nos é familiar; por isso, tem grande valor didático. Sua estrutura gramatical inclui com frequência expressões próprias da comparação (como, tal qual, semelhante a, parecido com, etc. Rever 1. Fr., 1.6.8). Para dar à criança uma idéia do que é o Sol como fonte de calor, observe-se o processo analógico adotado pelo Autor do seguinte trecho:

“O Sol é muitíssimo maior do que a Terra, e está ainda tão quente que é como uma enorme bola incandescente, que inunda o espaço em torno com luz e calor. Nós aqui na Terra não poderíamos passar muito tempo sem a luz e o calor que nos vêm do Sol, apesar de sabermos produzir aqui mesmo tanto luz como calor. Realmente podemos acender uma fogueira para obtermos luz e calor. Mas a madeira que usamos veio de árvores, e as plantas não podem viver sem luz. Assim, se temos lenha, é porque a luz do Sol tornou possível o crescimento das florestas.”

(Oswaldo Frota Pessoa, Iniciação à ciência, p. 35)

Sol tão quente, que é como uma enorme bola incandescente é, quanto à forma, uma comparação, mas, em essência, é uma analogia: tenta-se explicar o desconhecido (Sol) pelo conhecido (bola incandescente), sendo a semelhança apenas parcial (há outras, enormes, diferenças entre o Sole uma bola de fogo).

No seguinte trecho, de Rui Barbosa, não há, legiti­mamente, analogia nem comparação, nem contraste mas simples paralelo ou confronto:

“Oração e trabalho são os recursos mais poderosos na criação moral do ho­mem. A oração é o íntimo sublimar-se da alma pelo contato com Deus. O trabalho é o inteirar, o desenvolver, o apurar das energias do corpo e do espírito, mediante a ação contínua sobre si mesmos e sobre o mundo onde labutamos.”

(Antologia nacional, p. 128)

Não há comparação porque lhe falta a estrutura gramatical peculiar (como, parece, semelha, etc.); não é analogia porque a aproximação entre "oração" e "trabalho" não se baseia numa semelhança, e, ipsofacto, não há um termo mais conhecido com o qual se tenta explicar outro menos conhecido; não ocorre tam­pouco nenhum contraste porque não se assinala qualquer oposição de sentido entre os dois termos. O que existe, portanto, é um paralelo ou confronto.



4 -  Citação de exemplos

Para sermos coerentes, deveríamos incluir este caso na ca­tegoria do desenvolvimento por analogia. Entretanto, a explanação por exemplo(s) pode assumir duas feições típicas: uma exclusi­vamente didática, e outra, digamos, literária. Na primeira, a ci­tação de exemplos não constitui, propriamente, o desenvolvimento, mas uma espécie de comprovante ou elucidante. Nesse caso, as­sume uma forma gramatical típica, graças a certas partículas ex­plicativas peculiares (por exemplo, ex. g., v. g.). É, como todos reconhecem, um processo eminentemente didático. Na maioria das vezes, segue-se uma definição denotativa (i.e., didática ou cien­tífica, em oposição à conotativa ou metafórica, que não admite aposição de exemplo), à enunciação de um princípio, regra ou teoria, ou, ainda, a uma simples declaração pessoal. Vejamos um exemplo, didático e muito a propósito:

“Analogia é um fenômeno de ordem psicológica, que consiste na tendência para nivelar palavras ou construções que de certo modo se aproximam pela forma ou pelo sentido, levando uma delas a se modelar pela outra.

Quando uma criança diz fazi e cabeu, conjuga essas formas verbais por outras já conhecidas, como dormi e correu.”

(Rocha Lima, Português no Colégio, l? ano, p. 94)



A definição de analogia restringe-se, como não podia deixar de ser, ao âmbito exclusivamente lingüístico.

No parágrafo abaixo, o Autor desenvolve o tópico f rasal (resignação e sobriedade dos bandeirantes) através de exemplos mais literários do que propriamente didáticos:

“Como as caravanas do deserto africano, a primeira virtude dos bandeirantes é a resignação, que é quase fatalista,' é a sobriedade levada ao extremo. Os que par­tem não sabem se voltam e não pensam mais em voltar aos lares, o que freqüentes vezes sucede. As provisões que levam apenas bastam para o primeiro percurso da jornada; daí por diante, entregues à ventura, tudo é enigmático e desconhecido.”

(João Ribeiro, História do Brasil, p. 225)

 As vezes, a enumeração de exemplos não serve de esclarecer, mas de provar uma declaração, teoria ou opinião pessoal, como ocorre habitualmente nos estudos filológicos, na análise estilística e em todo trabalho de pesquisa de um modo geral:

Todo de antítese é o estilo do padre Antônio Vieira. Eis aqui três exemplos, com as antíteses sublinhadas:

a)      "Com razão comparou o seu evangelho a divina providência de Cristo a um

tesouro escondido no campo. Uma coisa é a que todos vêem na superfície; outra,

a que se oculta no interior da terra, e, onde menos se imaginam as riquezas, ali

estão depositadas. (...);

b)  ;

c)  ;

(José Oiticica, Manual de estilo, p. 111)


5 – Causalidade e motivação

É afirmativa mais que conhecida que cada causa há um efeito e para cada ato há uma conseqüência, mas é imprescindível que se saiba a diferença entre estas sentenças. Vejamos exemplos de desenvolvimento de parágrafo baseados nestas máximas:

5.1 Razões e conseqüências

O desenvolvimento de parágrafo pela apresentação de razões é extremamente comum, porque, não raro, as razões, os motivos, as justificativas em que se assenta a explanação de determinada idéia se disfarçam sob várias formas, nem todas explicitamente introduzidas por partículas explicativas ou causais, confundindo-se muitas vezes com detalhes ou exemplos.

No seguinte trecho, extraído de trabalho de aluno, as razões são indicadas de maneira explícita:

“Tanto do ponto de vista individual quanto social, o trabalho é uma necessidade, não só porque dignifica o homem e o prove do indispensável à sua subsistência, mas também porque lhe evita o enfado e o desvia do vício e do crime.”

A declaração inicial, constituída pela primeira oração (que é o tópico frasal) seria inócua ou gratuita, porque evidentemente óbvia, como verdade reconhecida por todos, se o Autor não a fundamentasse, não a desenvolvesse, apresentando-lhe as razões na série das orações explicativas (ou causais?) seguintes.



5.2 Causa e efeito

Parece ter ficado claro no tópico 5.1 que o desenvolvimento do parágrafo por apresentação de razões e consequências ocorre quando se trata de justificar uma declaração ou opinião pessoal a respeito de atos ou atitudes do homem, e que se deve falar em relação de causa e efeito, quando se procura explicar fatos ou fenômenos, quer das ciências naturais, quer das sociais.

O seguinte parágrafo mostra-nos o que é desenvolvimento por indicação de causa e efeito, partindo deste para aquela:

“Pressões nos líquidos — A pressão exercida sobre um corpo sólido transmite-se desigualmente nas diversas direções por causa da forte coesão que dá ao sólido sua rigidez. Num líquido, a pressão transmite-se em todas as direções, devido à fluidez. Um líquido precisa de apoio lateral do vaso que o contém, porque a pressão do seu peso se exerce em todas as direções. Se um corpo for mergulhado num líquido, experimentará o efeito das pressões recebidas ou exercidas pelo líquido.”

(Irmãos Maristas, Física, v. I, p. 536)

Note-se que as causas estão claramente indicadas por partículas próprias (por causa de, devido a, porque), forma comum, posto que não exclusiva desse processo de explicação ou de demons¬tração. A exposição nesse trecho faz-se a partir do efeito para a causa; no primeiro período, por exemplo, a transmissão desigual da pressão exercida sobre um corpo sólido é o efeito da forte coesão que dá ao sólido a sua rigidez. O período final, por sua vez, é uma inferência ou conclusão, vale dizer, uma generalização, decorrente dos fatos anteriormente indicados.


6 - Divisão e explanação de idéias "em cadeia"

Frequentemente, o Autor, depois de enunciar a idéia-núcleo no tópico frasal, divide-a em duas ou mais partes, discutindo em seguida cada uma de per si, para o que poderá servir-se de alguns dos processos já referidos, principalmente da enumeração de detalhes e exemplos e da definição (ver tópico seguinte), pondo tudo no mesmo parágrafo ou em parágrafos diferentes, se a complexidade e a extensão do assunto o justificarem.

Para nos dar idéia das manifestações concretas da vocação literária, Alceu Amoroso Lima adota o critério da divisão da idéia-núcleo em diferentes partes, definindo-as sucessiva e sucintamente no mesmo parágrafo:

“A vocação literária é sempre concreta. Manifesta-se como tendência, não só à atitude em geral, mas ainda a este ou àquele gênero de atitude. Entre as inúmeras posições possíveis (e neste terreno as classificações chegam às maiores minúcias), há cinco a marcar bem nitidamente inclinações diferentes do gênio criador — o liris¬mo, a epopéia, o drama, a crítica e a sátira. O lirismo é a expressão da própria al¬ma. A epopéia, a representação narrativa da vida. O drama, a representação ativa dela. A crítica, o juízo sobre a criação feita. E a sátira, a caricatura dos caracteres (...)”

(A. A. Lima, Estética literária, p. 99)

No resto do parágrafo (omisso na transcrição), o Autor retoma a mesma idéia-núcleo, dividindo-a, segundo novo critério, em lirismo, epopéia e crítica, e conclui com algumas considerações sobre os gêneros literários.



Amplexos,
Profª Chayana Leocádio
Nihil est magnum somnianti.
[Cícero, De Divinatione 2.141]

Os diferentes métodos de construção do tópico frasal

Você tem uma ideia, quer colocar no papel, mas não sabe como? Recorra ao tópico frasal como síntese e delimitação do seu pensamento e depois é só desenvolver esta ideia, ou melhor, é só desenvolver o seu tópico frasal que já está no papel.

Para mostra-lhes estes métodos, recorrerei novamente ao Professor Othon M. Garcia e suas classificações de tópicos frasais:

a) Declaração inicial — Esta é, parece-nos, a feição mais comum: o autor afirma ou nega alguma coisa logo de saída para, em seguida, justificar ou fundamentar a asserção, apresentando argumentos sob a forma de exemplos, confrontos, analogias, razões, restrições — fatos ou evidência, processos de expla­nação que veremos a seguir em 2.0.
Vivemos numa época de ímpetos. A Vontade, divinizada, afirma sua prepon­derância, para desencadear ou encadear; o delírio fascista ou o torpor marxista são expressões pouco diferentes do mesmo império da vontade. À realidade substituiu-se o dinamismo; à inteligência substituiu-se o gesto e o grito; e na mesma linha des­se dinamismo estão os amadores de imprecações e os amadores de mordaças (...)

(Gustavo Corção, Dez anos, p. 84)

O Autor abre o parágrafo com uma declaração sucinta, que, no caso, é uma generalização ("Vivemos numa época de ímpe­tos"), fundamentando-a a seguir por meio de exemplos e por-menores (delírio fascista, torpor marxista, império da vontade, dinamismo, gesto e grito, imprecações são termos que sugerem a idéia de ímpeto).

Às vezes, a declaração inicial aparece sob a forma negativa, seguindo-se-lhe a contestação ou a confirmação, como faz Rui Barbosa no trecho abaixo:
Gerneralização (tópico frasal): Não há sofrimento mais confrangente que o da privação da justiça. As crianças
Especificação (desenvolvimento): o trazem no coração com os primeiros instintos da huma­nidade, e, se lhes magoam essa fibra melindrosa, muitas vezes nunca mais o esquecem, ainda que a mão, cuja aspereza as lastimou, seja a do pai extremoso ou a da mãe idolatrada (...).

(Apud Luís Vianna, Antologia, p. 95)

O primeiro período poderia servir de título ao parágrafo: é uma síntese do seu conteúdo.
b) Definição — Frequentemente o tópico frasal assume a forma de uma definição. É método preferentemente didático. No exem­plo que damos a seguir, a definição é denotativa, Lê., didática ou científica (ver 5. Ord. — 1.3):
Estilo é a expressão literária de idéias ou sentimentos. Resulta de um conjunto de dotes externos ou internos, que se fundem num todo harmônico e se manifestam por modalidades de expressão a que se dá o nome As figuras.

(AugustoMagne,Princípios..., p. 39)

c) Divisão — Processo também quase que exclusivamente di­dático, dadas as suas características de objetividade e clareza, é o que consiste em apresentar o tópico frasal sob a forma de divisão ou discriminação das idéias a serem desenvolvidas:
O silogismo divide-se em silogismo simples e silogismo composto (isto é, feito de vários silogismos explícita ou implicitamente formulados). Distinguem-se quatro espécies de silogismos compostos: (...)

(Jacques Maritain, Lógica menor, p. 246)

Via de regra, a divisão vem precedida por uma definição, am­bas no mesmo parágrafo ou em parágrafos distintos.

A CONSTRUÇÃO DO PARÁGRAFO - O tão falado tópico frasal

No parágrafo padrão, ou seja, de textos que seguem uma linearidade de ideias e, por isso, é possível utilizá-los como base de estudo para principiantes na produção e interpretação textual, há a tão especulada formação tradicional composta por introdução, desenvolvimento e conclusão. Sendo a introdução do parágrafo construída por um ou dois períodos que dão, de forma sintética, a ideia ampla ou central daquele parágrafo, a este ou estes períodos damos o nome de tópico frasal. O quem vem a seguir é o desenvolvimento da ideia central e a conclusão desta ideia, mas este último só ocorre em períodos curtos ou em parágrafos de menor complexidade.

Citando novamente Othon M. Garcia, a seguir coloco seu conceito de tópico frasal:
Tópico frasal “É, como vimos, uma gene­ralização, em que se expressa opinião pessoal, um juízo, se define ou se declara alguma coisa”.

Partindo do que já falamos até agora sobre tópico frasal, podemos inferir que esta forma de construção textual é uma herança do raciocínio Greco-latino em que o texto, ou neste caso específico, o parágrafo é escrito a partir do método de dedução, ou seja, partindo do geral para o particular.  Havendo também casos em que o tópico frasal encontra-se no final do parágrafo, sendo assim utilizado o método da indução, já que parte do particular para o geral.
Vejamos um exemplo, tomando como base o 1º parágrafo do texto Juventude e participação do vestibular UERJ 2009:

“Inicialmente, gostaria de destacar que toda avaliação é feita a partir de uma comparação. Neste caso, essa comparação poderia ser feita em duas direções. Uma delas em relação a outras faixas etárias e a outra em relação à juventude de épocas passadas. Em relação à primeira dimensão, me parece que o comportamento político da juventude não seja diferente do de outras faixas etárias. Os que avaliam como baixa a participação política da juventude atual não podem afirmar que seja diferente da participação política das outras faixas. Existem parcelas da população passivas (e entre elas há jovens e também adultos), assim como existem parcelas da população com alta taxa de participação política, e entre elas podemos igualmente identificar jovens e adultos.”

O primeiro período grifado por mim ilustra a idéia central do parágrafo, constituindo assim seu tópico frasal, que diz diretamente que toda avaliação advém de uma comparação e o segundo período dá o paradigma geral em que estas comparações podem ser logradas. A ideia central está lançada e delimitada, após isso se torna imprescindível que o autor explane e detalhe o assunto para que ele se torne inteligível.

O Tópico frasal é um norteador para o autor do texto, pois é quem vai delimitar e orientar, garantindo assim a objetividade, clareza e coerência. Evitando, portanto, equívocos muito frequentes que é a fuga do tema proposto.      

O parágrafo e sua extensão

Ainda em Othon M. Garcia que cita Francis Trainor:

“Como unidade de composição "suficientemente ampla para conter um processo completo de raciocínio e suficientemente curta para nos permitir a análise dos componentes desse processo, na medida em que contribuem para a tarefa da comunicação"

Ouço diariamente meus alunos me questionarem quanto a quantidade ideal de linhas para cada parágrafo. Ora, se cada parágrafo é um conjunto de ideias que se associam para tratar de uma ideia central, não é relevante preocupar-se com a quantidade de linhas, mas sim com a completude e coerência com que esta ideia é tratada no interior daquele parágrafo e sua associação com o restante do texto. Então é possível termos parágrafo de apenas uma linha e parágrafos que ocupem páginas inteiras, o que importa é a qualidade de sua construção.

 A extensão de cada parágrafo dependerá, portanto, da divisão que o autor deseja dar à seu texto. As ideias mais complexas podem precisar ser desdobradas em mais de um parágrafo de acordo com a lógica que autor deseja imprimir ao texto como um todo.

Um belo exemplo de texto que não considerou estes conceitos lógicos para construção de cada parágrafo, mas sim se deteve à idiossincrasias pessoais é o que vem a seguir:
Estávamos em plena seca.
Amanhecia. Um crepúsculo fulvo alumiava a terra com a claridade de um incêndio ao longe.
A pretidão da noite esmaecia. Já começava  a se individualizar   o   contorno  da  floresta,   a   silhueta   das   montanhas ao longe.
A luz foi pouco a pouco tornando-se mais viva.
No oriente assomou o Sol, sem nuvens que lhe velassem o disco. Parecia uma brasa, uma esfera candente, suspensa no horizonte, vista através da ramaria seca das árvores.
A floresta completamente despida, nua, somente esqueletos negros, tendo na fímbria aceso o facho que a incendiou, era de uma eloqüência trágica!
Amanhecia, e não se ouvia o trinado de uma ave, o zumbir de um inseto!
Reinava o silêncio das coisas mortas.
Como manifestação da vida percebiam-se os gemidos do gado, na agonia da fome, o crocitar   dos    urubus    nas carniças.

(Rodolfo Teófilo, in Nova antologia brasileira, de Clóvis Monteiro, p. 85)

Antes de comentarmos este texto é preciso elucidar sobre a diferença da ideia núcleo nos principais tipos textuais:

  • Na dissertação e de argumentação é uma determinada idéia;
  • Na narração é um incidente (episódio curto);
  • Na descrição é ou deve ser um quadro, um fragmento de paisagem ou ambiente num determinado instante, entrevisto de determinada perspectiva.

O texto que tomamos como exemplo é, certamente, um texto descrito e seu quadro é o amanhecer, portanto essas dez linhas deveriam compor um único parágrafo. Entretanto, o autor opta por fragmentar a paisagem a fim de atribuir realce às ideias correlatas ao amanhecer como é o cambiar de cores e luzes (crepúsculo fulvo, claridade de incêndio, pretidão da noite, luz mais viva, assomo de Sol, ausência de nuvens) e o delinear-se gradativo do perfil da paisagem (contorno da floresta, silhueta das montanhas, ramaria seca das árvores).

Vemos, portanto, que a extensão do parágrafo não se justifica apenas pelo desenvolvimento do núcleo de uma ideia, mas também a perspectiva que o autor tem em relação as possibilidades de interpretação do leitor.

PARÁGRAFO

Assim Othon Moacir Garcia define parágrafo:

“O parágrafo é uma unidade de composição constituída por um ou mais de um período, em que se desenvolve determinada idéia central, ou nuclear, a que se_agregam outras, secundárias, inti­mamente relacionadas pelo sentido e logicamente decorrentes dela.”

A partir desta afirmativa, podemos concluir que dentro de cada parágrafo deve-se desenvolver uma ideia ou um encadeamento de ideias. Sendo assim, o texto completo só coerente quando cada parágrafo encarrega-se de lhe atribuir coerência através da relação de sentido que se estabelece entre os parágrafos a partir do tema proposto.

domingo, 3 de julho de 2011

Argumentação formal

Proposição

A proposição deve ser clara, definida, incon¬fundível quanto ao que afirma ou nega. Além disso, é indispensável que seja... argumentável, quer dizer, não pode ser uma ver¬dade universal, indiscutível, incontestável. Não se pode argumen¬tar com idéias a respeito das quais todos, absolutamente todos, es¬tão de acordo. Quem discutiria a declaração ou proposição de que o homem é mortal ou um ser vivo? Quem discutiria o valor ou a im¬portância da educação na vida moderna? Se argumentar é conven¬cer pela evidência, pela apresentação de razões, seria inútil tentar convencer-nos daquilo de que já estamos... convencidos. Argu¬mentação implica, assim, antes de mais nada, divergência de opinião. Isto leva a crer que as questões técnicas fogem à argumen¬tação, desde que os fatos (experiências, pesquisas) já tenham provado a verdade da tese, doutrina ou princípio. Fatos não se dis¬cutem.
Por outro lado, a proposição deve ser, de preferência, afir¬mativa e suficientemente específica para permitir uma tomada de posição contra ou a favor. Como argumentar a respeito de gene¬ralidades tais como a previdência social, a propaganda, a democracia, a caridade, a liberdade? Proposições vagas ou inespecíficas que não permitam tomada de posição só admitem disser¬tação, explanação ou interpretação. Para submetê-las à argumentação é necessário delimitá-las e apresentá-las em termos de opção: previdência social, sim, mas em que sentido? Trata-se de Kostrar a sua importância? Quem o contestaria? Trata-se de as¬sinalar as suas falhas ou virtudes em determinado instante e lugar? Sim? Então, é possível argumentar, pois deve haver quem discorde da existência de umas ou de outras. Nesse caso, a proposição poderá configurar-se como: Porque a Previdência Social oferece ou não) aos trabalhadores toda a assistência que dela se deve esperar ou Deficiências da assistência médica prestada pelo Instituto t no ano tal no Estado tal.  Posta em termos semelhantes, a proposição torna-se argumentável, já que admite divergências de opiniões.


Análise da proposição

A análise da proposição constitui o estágio da maior importância. Antes de começar a discutir é indispensável definir com clareza o sentido da proposição ou alguns dos seus termos a fim de evitar mal-entendidos, a fim de pedir que o debate se torne estéril ou inútil, sem possibilidade de conclusão: os opositores, por atribuírem a determinada palavra ou expressão sentido diverso, podem estar de acordo desde o início, sem o saberem. Urge, portanto, definir com precisão o sentido das palavras.
Se a proposição é, por exemplo, "A democracia é o único regime político que respeita a liberdade do indivíduo", tor¬na-se talvez necessário conceituar ou definir primeiro, pelo menos, "democracia" e "liberdade", palavras de sentido intencional, vago, abstrato, e por isso sujeitas ao malabarismo das múltiplas in¬terpretações.
Além da definição dos termos, importa que o autor ou orador defina também, logo de saída, a sua posição de maneira ine¬quívoca, que declare, em suma, o que pretende provar.


Formulação dos argumentos

A formulação dos argumentos constitui a argumentação propriamente dita: é aquele estágio em que o autor apresenta as provas ou razões, o suporte das suas ideias. Ê aí que a coerência do raciocínio mais se impõe. O autor deve lembrar-se de que só os fatos provam (fatos no sentido mais amplo: exemplos, estatísticas, ilustrações, comparações, descrições, narrações), desde que apresentem aquelas condições de quantidade suficiente (enu¬meração perfeita ou completa), fidedignidade, autenticidade, relevância e adequação.
Além disso, é de suma importância a ordem em que as provas são apresentadas; o autor deve escolher a que melhor se ajuste à natureza da sua tese, a que seja mais capaz de impressionar o leitor ou ouvinte. Quase sempre, entretanto, ao contrário do que se faz na refutação, adota-se a ordem gradativa crescente ou climática, isto é, aquela em que se parte das provas mais frágeis para as mais fortes, mais irrefutáveis.
Outro recurso de convicção consiste em manter o leitor como que em suspense quanto às conclusões, até um ponto de saturação tal, que, várias vezes iminentes, mas não declaradas, elas acabem impondo-se por si mesmas: esse é o momento de enunciá-las. Mas deve lembrar-se da paciência e da resistência da atenção do leitor para não cansá-lo nem exasperá-lo, mantendo-o por tempo de¬masiado na expectativa da conclusão.
Existem ainda outros artifícios de que o argumentador pode servir-se para convencer, para influenciar o leitor ou ouvinte.
Muitos são comuns também à dissertação: confrontos fla¬grantes, comparações adequadas e elucidativas, testemunho autorizado, alusões históricas pertinentes, e até mesmo anedotas.
Por fim, cabe ainda lembrar dois outros fatores relevantes. O primeiro diz respeito à conveniência de o autor frisar, nas ocasiões oportunas, os pontos principais da sua tese, pontos que ele, sem dúvida, englobará na conclusão final, de maneira tanto quanto possível enfática, se bem que sucintamente. O segundo refere-se à necessidade de se anteciparem ou se preverem possíveis objeções do leitor, para refutá-las a seu tempo.


Conclusão

A conclusão "brota" naturalmente das provas arroladas, dos argumentos apresentados. Sendo um arremate, ela não é, entretanto, uma simples recapitulação ou mero resumo: em síntese, consiste em pôr em termos claros, insofismáveis, a essência da proposição.

PLANO PADRÃO DA ARGUMENTAÇÃO FORMAL

1. Proposição
Afirmativa, suficientemente definida e limitada. Não deve conter em si mesma nenhum argumento, isto é, prova ou razão.

2. Análise da proposição

3. Formulação dos argumentos (evidência):
a) fatos
b) exemplos
c) ilustrações
d) dados estatísticos
e) testemunhos

4. Conclusão

Proposta de redação

Acessem os links http://fantastico.globo.com/Jornalismo/FANT/0,,MUL1663389-15605,00.html e http://novasdocirco.blogspot.com/2011/06/cortina-de-fumaca-ao-vivo-no-circo.html e leiam a entrevista do ex-presidente da república FHC e a reportagem sobre o filme Cortina de Fumaça. A partir destas leituras produzam uma redação dissertativa-argumentativa, em norma padrão da lingua portuguesa, a cerca do tema Maconha: legalizar ou não?

Lembrem-se de alguns pontos importantes:
Dissertação analisa, interpreta e explica dados da realidade;
É imprescinível defender um ponto de vista, portanto não fique "em cima do muro"!
Argumente. Seu texto precisa ser visto como verdade absoluta;
Use linguagem impessoal para que seu texto tome foro de verdade e não de opinião.

Aguardo respostas em meu email: chayanaleocadio@gmail.com

Amplexos,

DISSERTAÇÃO

Dissertação é o tipo de texto que analisa, interpreta, explica e avalia os dados da realidade, pretendendo com isso falar de algo que ele apresenta como uma verdade válida para todos os homens, em todos os tempos e lugares, construído-o com o presente em seu valor atemporal.

Características:

  •   Texto de caráter temático, pois analisa e interpreta a realidade com termos abstratos (método, prudência, corrupção, vontade, paixões etc.). Quando se vale de termos concretos (homem, livros, documentos etc ), toma-os em seu valor genérico. Ou seja, não trata de episódios ou seres concretos e particularizados, mas de análises interpretações genéricas válidas para muitos casos concretos e particulares;
  •  Existe transformação de situação ao longo do texto;
  •    A progressão dos enunciados obedece a uma ordenação e a uma relação lógica (analogia, pertinência, causa¬lidade, coexistência, correspondência, implicação etc. )e NÂO cronológica. Um enunciado é anterior a outro não por causa de uma progressão  temporal, mas por causa de uma concatenação lógica;

  Já que a dissertação pretende expor verdades gerais válidas para muitos fatos particulares, o tempo por excelência da dissertação é o presente no seu valor atemporal; admite-se nela ainda o uso de outros tempos do sistema do presente, a saber, o presente com valor temporal, o pretérito perfeito e o futuro do presente.

Sobre este valor atemporal somando ao caráter de verdade que permeia o texto, o verbos devem ser utilizados da seguinte forma:
Modo Indicativo: apresenta o fato como certo, preciso, seja ele passado, presente ou futuro.
Presente: faz, fazemos (impessoalidade fraca, mas aceita) e fazem.
Pretérito perfeito: fez, fizemos (impessoalidade fraca, mas aceita) e fizeram.
Futuro do presente: fará, faremos (impessoalidade fraca, mas aceita) e farão.